Este fator 2 é
chamado de fator g de Landé, e apareceu pela primeira vez em um
modelo
fenomenológico feito pelo físico alemão Landé, em 1921, para explicar
as linhas
espectrais do efeito Zeeman anômalo.
A razão pela
qual o spin tem que ser introduzido como um postulado na
mecânica
quântica é porque ela não é uma teoria relativística. Quando
Schrödinger
deduziu sua equação, ele partiu da equação para a energia de uma
partícula da
mecânica clássica (ver página 7 da aula 10). Portanto, quando se
aplica o
princípio da correspondência de Bohr às equações da mecânica quântica,
o que se obtém
como limite não-quântico é a mecânica newtoniana e não a
mecânica
relativista de Einstein.
Em 1928, Dirac
desenvolveu uma nova equação para uma descrição quântica do
elétron tomando
como ponto de partida as equações da relatividade especial. Essa
equação é
chamada de equação de Dirac. Ela pode ser vista como uma extensão
da equação de
Schrödinger de uma partícula livre para o limite relativístico.
A equação de
Dirac prevê que o elétron deve ter um momento angular
intrínseco
e um momento
magnético intrínseco com as mesmas propriedades de
quantização do
modelo de spin de Uhlenbeck e Goudsmit (inclusive com o fator
g = 2 de
Landé). Desta forma, a versão relativista da mecânica quântica do
elétron
proporcionada pela equação de Dirac fornece um sólido suporte teórico
para a
aceitação da teoria do spin do elétron. Além disso, ela confirma de vez que
o spin do
elétron é uma grandeza física sem análogo clássico. Ele é uma grandeza
de natureza
puramente quântico-relativista.
Não é objetivo
deste curso tentar descrever a teoria de Dirac e nem os
desdobramentos
da mecânica quântica relativística que ocorreram a partir de
1928 (já basta
o sofrimento dos alunos em ter que entender a mecânica quântica
não
relativística). Porém, é interessante dizer que a equação de Dirac (que é uma
equação para
uma partícula livre que, portanto, deve ter estados de energia
positivos)
prevê a existência de partículas com energias negativas.